quinta-feira, 8 de março de 2012

“Oi.”

Foi isso que você disse, com seus olhos tristes, um cigarro pendurado na boca. Você estava com tédio, dava para sentir isso saltando dos seus poros junto com seu cheiro e suor, sua saliva envenenando o filtro do cigarro.

É, você ali, na minha frente, com seu jeito de homem perigoso, olhos obscuros sondando a minha pele clara como se quisesse me jogar no chão e acabar comigo ali mesmo, no meio daquelas pessoas desconhecidas. Como se quisesse me matar, mas também me morder, sentir meu gosto nos seus lábios, a textura contra seu corpo, o tom suave da minha voz enquanto você estivesse entre as minhas pernas.

Eu vi tudo isso no relance de olhos cinzentos que voaram sobre mim. Senti suas presas afundando na minha carne e o veneno fazendo com que a minha cabeça girasse. Isso tudo entre um abrir e fechar de olhos.

Não. Não era bem o seu estilo. Com meus olhos inteligentes, mutantes, perquiridores. Você odiaria essa palavra, né? Perquiridores. “Que coisa mais ridícula, isso.”, posso ouvir sua voz na minha mente enquanto você me olha com esse jeito de vampiro.

Um vampiro, com mil anos, um ar de quem não se adapta à vida. Mãos de quem governou um império e o observou ruir num silêncio indizível. Essa força que poderia reduzir uma lata de cerveja a pó em um segundo, num ato lânguido.

E então, a primeira vez que você tocou em mim, entrelaçando seus dedos nos meus cabelos, como se eu fosse uma escrava ou a pessoa mais importante da sua vida, foi aí que eu bebi de você. Do seu veneno com gosto de beladona e algo suave, verbena...

Beber uma pessoa, sabe como é? Você sentir a língua dela na sua boca e fazer um tratado sobre que palavras se embaralham na mente dela? Doeu muito, seus ossos sombreando a pele clara na curva entre o pescoço e o ombro, sobre a jugular, e suas olheiras arroxeadas, fazendo seus olhos brilharem como os de um cadáver fresco.

Meu amor, meu amor... Desculpe ser assim, tão sentimental... “Não posso viver sem a minha vida, não posso viver sem a minha alma”, conhece? Quero lhe dizer que você foi o melhor pesadelo que tive em todos os meus anos de tropeços e pés inflamados. Aquela coisa bonita de desentendimentos e alguns roxos do nosso amor que também era ódio, o seu sangue sob as minhas unhas...

Meu amor, seus ardores e venenos, suas mãos nos meus seios e as pernas entrelaçadas. E os roxos, os poemas, aqueles três dias (ou meses?) fora... Prefiro ter a coragem de fechar meus olhos a enxerga-lo novamente. Guardo sua lembrança tatuada em meus ossos, cravada à força na minha mente, fundindo meus olhos... Seus olhares me cortam...


Com amor,

moi

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