“Tudo que é sólido se desmancha no ar”
Foi como aconteceu conosco. Seus cabelos pretos, já tão translúcidos, desaparecendo no ar. Como se você nunca houvesse existido, Tom. Como se eu nunca tivesse desenhado seus traços na minha mente, como se jamais houvesse imaginado seu cheiro sutil e complexo. Um fiapo diante do infinito.
Já faz doze anos que você não passa de história. Um mito que marcou não apenas a mim, mas a toda a população mágica. Medo, morte e desconfiança, Tom, as palavras que compunham seu hino, não é mesmo? E você se desmanchou no ar, como se fosse apenas uma imaginação coletiva. Como se eu nunca houvesse me desesperado tanto por você.
O que dói em mim, naquela parte escura do meu ser (E eu não sei que parte é, Tom! É minha alma ou meu cérebro? O coração sente ou apenas pulsa? Porque ele também dói.), é perceber como ainda ouço o som das suas risadas nos corredores escuros, porque você era aquela pessoa amada e cruel que se escondia e ria.
Eu tenho Harry, afinal. No fundo eu sei que você se orgulharia de mim, porque aquela garotinha inocente de onze anos transformou-se em uma mulher, finalmente. E essa mulher consegue o que quer e gosta do que vê, exatamente como você agia. Engraçado perceber a força que eu fiz para te odiar sendo que neste momento possuo características que você plantou naquela menininha e que agora germinaram. Como seu eu fosse um projeto, como se eu, apesar de tantos anos, continuasse sendo seu projeto.
Crer que você não existe mais, Tom, saber que não verei novamente seus olhos grafite simplesmente me enfraquece. Doze anos tentando te odiar e no fim sentir apenas dor, e dor por mim mesma, por ter sido tão ingênua, por não ter te captado, por não ter te tocado do jeito que eu queria. Machuca muito.
E meu último pedido, antes de irmos para a Câmara, não era sobre Harry, Tom. Nunca subestime uma criança com perspicácia de mulher. Eu só queria me esquecer.
Personagens da J.K.Rowling. Divagações minhas.