Cinco da manhã. Cheguei bêbada em casa, fumei. Esses olhos borrados, de ressaca, são tanto seus como das outras mil pessoas que choraram, que beberam, que transaram e se drogaram por aí.
Eu via tudo em vermelho e pulsando, como sangue, que bom, eu estava de sapatilha. A bebida imbeciliza as pessoas, eu sei, eu entendo, minha flor, eu concordo, mas existem certas situações em que não consigo evitar. Não gosto de cigarros, mas fumei. Fumo quando estou triste e quando bebo, é perigoso.
Eu tenho algo muito, muito obscuro dentro de mim. Que egoísta, todos nós temos. Como uma pessoa que em um corredor escuro se esconde e ri. Como aquela pessoa que coleciona corações. Uma filha da puta. Presente.
Perguntaram : "você é gaúcha?" "Não, não" "Parece, você é branca, tem olhos claros e é bonita" e então eu pensei que esse terceiro havia bebido muito ou queria algo extremamente fácil... sinto desapontar, pessoa errada, campeão.
Estava parecendo uma vampira. Olhos num azul escuro e a boca em um tom fechado de vermelho. Não consigo evitar, não sei se gosto de chamar atenção ou não, mas me sinto bem assim. Sinto poder, sinto firmeza, sinto-me um porto seguro para mim mesma, vale frisar.
Eu deitei no colchão, às 5 da manhã. Eu nem sei como voltei dirigindo, não gosto de dirigir quando bebo, porque é coisa de gente estúpida, mas todos haviam bebido. Acordei às 9 e quando percebi que estava dançando no banheiro eu vi que ainda estava bêbada. Eu só posso ter nascido de uma junção de uma puta com um hipócrita e ter sido adotado pelos meus pais.
E a vida continua. Eu continuo na minha vidinha de mentir para mim mesma, fechar os olhos para o que me tornei. Tapar os ouvidos para não ouvir os gritos que parecem ser meus, na realidade.
Amo e odeio. Isso dói.